terça-feira, 15 de fevereiro de 2011


Fúria. Sempre conheci a palavra, a grafia. Pensava que já havia sentido a fúria. Estava enganado. Nunca fiquei furioso; até ontem. Quando baixei os olhos e abandonei o livro no sofá, as minhas mãos tremiam. Nunca pensei que um dia seria ferido por papel e tinta. O meu estômago doía. Comecei a suar. Era nítida a imagem dele na minha mente. Os óculos com armação grossa. Os poucos cabelos acentuando os olhos esbugalhados de camaleão. Eu senti a presença dele. Fui buscar um copo d'água na cozinha; me sentia um pouco tonto. A dor aumentou, e na porta da cosinha comecei a tremer, tremer intensamente. Maldito! Maldito! Não consegui segurar o choro, as lágrimas queimavam o meu rosto. A tremedeira ficou incontrolável, e eu via ele. Aqueles olhos estrábicos apontavam para lados opostos. A boca articulou as primeiras palavras e o cheiro do tabaco explodiu nas minhas narinas. Ele estava perto, e eu tinha apenas uma chance... Maldito! Maldito!