quinta-feira, 19 de junho de 2008

Concreto

Concretizar:
Tornar concreto.
Ir aonde o verbo jamais foi;
Levantar o rabo do sofá
[pra que haja movimento;
A transpiração da inspiração:
Os 90%.


Ricardo Sabadini 19/06/08

terça-feira, 20 de maio de 2008

Êxodo

Quarta feira, dia 21 do mês de maio de 2008, estaremos nos apresentando em Passo Fundo. Cidade de pessoas por nós muito queridas (algumas não; óbvio), mas a grande maioria sim. Enfim, não se vive impunemente os prazeres de uma vida no interior, onde é bem provável conhecer todas as pessoas que produzam algum tipo de ruído, harmonioso ou não, mas que de qualquer forma se fazem presentes; além do mais, o conflito é necessário. É no conflito que são expostas as idéias dos omissos, daqueles que nunca manifestam opinião alguma, a não ser, quando não há alternativa senão vomitar tudo o que pensam.

Mas não é pra falar desses assuntos belicosos que eu interrompo meu mantra e redijo essas linhas. Vou falar um pouco sobre o dia em que saí de Passo Fundo (eu=Ricardo), pra morar em Porto Alegre.

Foi cedo, sete horas da manhã o caminhão de mudanças estava a postos na frente da casa dos meus pais. Tudo estava previamente encaixotado, enrolado, amarrado, empilhado, então foi rápido o embarque das bugigangas. Meus pais moravam em Chapecó e nesse dia só meu pai tava pra dar uma mão. Um breve abraço no velho e algumas lágrimas; mas não muitas. Fomos, o motorista e eu, pra segunda parada das três previstas: a casa do Criba, o baixista da minha banda na época.

Minto! O Criba já estava na casa dos meus pais quando o caminhão chegou. Fui buscá-lo antes. Exalava cachaça, o rapaz. Fez uma despedida e tanto. Durou a noite toda e o cheiro acre do álcool que evaporava lentamente por seus poros pra entrar com violência nas minhas narinas, parecia mais uma alma que recusa deixar o corpo do morto.

É importante a informação que nessa época eu tocava na BrancoLarera, portanto, o Miglú, no nosso imaginário, gozava de uma vida plena de prazeres na capital: mulheres de diversas etnias, shows semanais ET Cetera... Ele migrou pra Porto Alegre com a banda Rabo de Peixe seis meses antes.

Ficamos um ano inteiro nos preparando pra essa aventura. A preparação consistiu em gravar um disco e finalizar todos os detalhes que isso comporta: uma capa, a prensagem, mixagem, masterização e o diabo. Tudo finalizado: o apartamento em Porto Alegre alugado; alguns relacionamentos amorosos desfeitos; estávamos prontos. Só nos restava partir. E partimos.

A última parada foi na cidade de Casca, pra pegar o Reynaldo, sua bateria, alguns outros objetos de utilidade doméstica e, seus vinis, isso sim, de suma importância. O Sr. Flauri, pai do Reynaldo, nos presenteou com dois garrafões de vinho colonial de sua adega particular recomendando-nos beber com parcimônia, o que não deixa de ser um delírio paterno. Mais abraços e lágrimas; mas não muitas.

Agora sim; on the Road.

Pra economizarmos nas passagens e termos o que comer nos primeiros dias, decidimos que apenas um integrante da banda teria o conforto de um ônibus com ar condicionado e a possibilidade de uma bela garota sentar ao seu lado. E esse abençoado foi o Tucum, o vocalista. Óbvio; sempre o vocalista. Pro resto (Criba, Reynaldo e Eu), sobrou a vista panorâmica da estrada pela cabina do caminhão, onde cabiam três pessoas confortavelmente e, quatro, com uma boa logística. Entre cotoveladas, câimbras, e membros adormecidos fizemos uma boa viagem.

O motorista estava longe de ser uma bela garota, mas era simpático. Ele também não conhecia Porto Alegre, mas não importa. Chegamos bem, na medida do possível. Ficamos os três primeiros dias sem luz, mas foram apenas três. Gostamos de Porto Alegre, brigamos em Porto Alegre, embriagamo-nos em Porto Alegre, sorrimos e sonhamos em Porto Alegre. E tudo isso está em nossas canções. E tudo isso é Severo em Marcha. E algumas lágrimas; mas não muitas.

Ricardo Sabadini

Porto Alegre, 20 de maio de 2008.

quarta-feira, 12 de março de 2008

De tudo que é feio

Fazer careta; é feio.

Não dar o dízimo; é feio!

Fumar; peidar; também é feio?

- Expulsão, cartão vermelho!

Homem que chora, não é homem...




...é feio.




Questionar o governo? É feio! Muito feio!

Dormir sem rezar;

O que não ter; desejar.

Falar por falar;

Irmã de amigo; transar.

É feio! É feio! É feio!

Eu gosto do feio.

De tudo que é feio.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

?... !

Porque não me escuta?

Eu, entre sapos & grilos;

Dou pulos, piparotes & petelecos;

Mostro-te a língua;

Faço-te um filho;

Faço-te droga e te consumo;

Eu danço pra você.


Piso no teu pé!

Dedo na tua cara!

Perdigotos voadores pousam em tua blusa!

E eu...


...eu não queria mesmo.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Sobre profetas e limpeza urbana

Noite no meu quarto.

Porto Alegre respira:

Murmúrio que não cessa;

Mancha que não sai;

- Jesus voltará! Grita alguém na rua;

- Quem?

Um caminhão de lixo passa...

- Ele voltará!

- Quem? Jesus?

- Não, o caminhão.

O silêncio grita; raramente chega a tanto; é hora de dormir.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Sorria meu bem, sorria!

Sorria, mostre os dentes antes que lhes caiam da boca.

Dance descalço no tapete da sala, faça algum barulho

e receba a síndica com vinho, pouca luz e música lenta.

Saia de casa , compre cigarros e não esqueça o troco;

Esqueça a síndica.

Procure um telefone público para uma ligação local.

Anote o endereço, é importante. O táxi é rápido; esqueça o troco.

Socialize, é uma festa! A trilha sonora é algum tipo de rock antigo,

Termine o primeiro cigarro com uma longa tragada e beba as primeiras doses.

Pegue Ela pelo braço e mostre o teu repertório em prosa;

eu sei que tu tens um!

Acenda mais um cigarro, diga algumas obscenidades...

Na casa há um quarto perfeito para o Gran Finale.

É de manhã, abra os olhos e respire fundo:

Sinta como é o cheiro dos que vivem.

E, sorria!

Mostre os dentes antes que lhes caiam da boca.