Deixarei um pouco de mim
Em cada nova linha
De cada nova página
Para cada novo dia.
Em todos meus cadernos
& folhas avulsas
& recados no Orkut
& sinais de fumaça
& cabelos
[Pelo chão da casa]
& cobertores:
Um pouco de mim.
Deixarei, também, alguns videos
& fotos virtuais
& depoimentos em perfis
De amigos VIRTUAIS
Que um dia foram REAIS
& que agora estão por aí;
Perdidos de mim.
terça-feira, 8 de setembro de 2009
domingo, 16 de agosto de 2009
Do que eu tenho medo?
Do que eu tenho medo?
Da dor?
Doerá.
E muitas vezes.
Já doeu; sei como é.
Da morte?
Morrerei.
Uma vez apenas.
Um dia acontece, é natural.
Foi natural com a tia Tilma, irmã de minha mãe.
Trinta e poucos anos e um aneurisma.
Vô Otaviano, câncer.
Natural.
Esses foram os primeiros.
E não foram os últimos...
Vô Sabadini - Eugenio, calado, tu fostes logo após Elvira;
A tua mulher, tagarela, me fez um pedido no leito de morte...
Eu deveria...
Converter meu pai!
Eu?!
Os cigarros mataram tio Celso?
Naturalmente.
A vida de caminhoneiro agiu como estimulante.
O álcool e as prostitutas também.
A estrada é um sinuoso e negro playground.
Que vida!
Quando nasci, em 1980, meu pai também era caminhoneiro.
Ele estava na estrada - no hard feelings.
A estrada é um sinuoso e negro playground, não é?
Do que mesmo eu tenho medo?
Dor?
Morte?
Talvez a solidão...
Apagar...
E existir...
No vácuo...
Surdo, cego e mudo...
Hamlet?
Talvez.
Mas, não gosto de punhais.
Não tenho desejo de morte.
Ela acontece.
É natural.
É mais uma viagem.
A estrada é um sinuoso e negro playground.
But, no hard feelings.
Da dor?
Doerá.
E muitas vezes.
Já doeu; sei como é.
Da morte?
Morrerei.
Uma vez apenas.
Um dia acontece, é natural.
Foi natural com a tia Tilma, irmã de minha mãe.
Trinta e poucos anos e um aneurisma.
Vô Otaviano, câncer.
Natural.
Esses foram os primeiros.
E não foram os últimos...
Vô Sabadini - Eugenio, calado, tu fostes logo após Elvira;
A tua mulher, tagarela, me fez um pedido no leito de morte...
Eu deveria...
Converter meu pai!
Eu?!
Os cigarros mataram tio Celso?
Naturalmente.
A vida de caminhoneiro agiu como estimulante.
O álcool e as prostitutas também.
A estrada é um sinuoso e negro playground.
Que vida!
Quando nasci, em 1980, meu pai também era caminhoneiro.
Ele estava na estrada - no hard feelings.
A estrada é um sinuoso e negro playground, não é?
Do que mesmo eu tenho medo?
Dor?
Morte?
Talvez a solidão...
Apagar...
E existir...
No vácuo...
Surdo, cego e mudo...
Hamlet?
Talvez.
Mas, não gosto de punhais.
Não tenho desejo de morte.
Ela acontece.
É natural.
É mais uma viagem.
A estrada é um sinuoso e negro playground.
But, no hard feelings.
terça-feira, 30 de junho de 2009
Maldição
Procuro as palavras que
Estariam em meu bolso,
E que não me deixariam
Esquecer...
...A sequência exata
Das Benditas Imagens
Que acabo de
Perder.
Estariam em meu bolso,
E que não me deixariam
Esquecer...
...A sequência exata
Das Benditas Imagens
Que acabo de
Perder.
domingo, 31 de maio de 2009
Rosemiro
Rosemiro, menino de cabelos castanho-claros, do tipo 'cortados pelo tio', meio espetados, volta para casa depois de mais uma manhã de aula. O colégio fica a poucas quadras de distância, o que impele Rosemiro a criar, diariamente, rotas alternativas, aumentando seu conhecimento geográfico do bairro.
Ele fala sozinho. Enquanto fala, olha os pés em movimento perseguindo sua sombra - “Entenda que este mundo é o reino das trevas e jaz no maligno!”, a avó ou a mãe sempre diziam. E continuavam: “Se há algo em que gloriar, somente na graça alcançada em Jesus Cristo!” - ele se cagava de medo de Jesus Cristo.
Quando tinha oito anos, os pais de Rosemiro liam para ele e o irmão trechos da bíblia: Os demônios; a mulher-estátua-de-sal, eternamente com a face voltada para trás; os anjos, que não tinham sexo; Cristo, em espectro; todos saltitavam no quarto enquanto Rosemiro assistia ao pai e a mãe revezarem a leitura. Algumas vezes, Pan, tocando sua flauta, saía do guarda roupas seguido de um Lobisomem afeminado, com flores espalhadas pelo corpo peludo.
Essas imagens que invadem a alma durante a caminhada, são reflexos do dia em que foi pego se masturbando na frente da prima.
Filha caçula de Tia Joelma, irmã da mãe de Rosemiro, Jussara Julia Bianchini, Sarinha, como era chamada, na época tinha seus 12 anos de idade. Ela morava com os pais e dois irmãos, numa modesta casa cujo terreno divisava com os fundos da casa dos pais de Rosemiro. Todas as tardes, com raras exceções, Sarinha e Rosemiro brincavam de correr ao redor das árvores por entre os dois pátios. Também subiam e desciam, com os bolsos transbordando de ameixinhas, quando era a época dessas frutas amarelas e gordinhas brotarem.
Sarinha, segundo descrição de Rosemiro, parecia uma pequena saracura. Isso devido às pernas finas que sustentavam o corpo da menina de cabelos castanho-escuros e chuquinhas. Sempre sorridente e agitada, instigava ao primo; este, tímido e introspectivo, aderia ao movimento como alguém que cai em correnteza fortíssima, sendo arrastado pelas forças da Natureza. Sendo essa senhora, velha cafetina que não pede a idade dos freqüentadores do seu Night Club, a responsável por esse constrangimento, que, como um terceiro mamilo, Rosemiro carregaria por muitos anos.
Era uma tarde em que nada diferia das demais tardes ensolaradas, de brincadeiras inocentes e joelhos esfolados, vividas por Rosemiro. Uma tarde no topo das árvores, cuja percepção de tempo é relativa à imaginação profícua das crianças: Ali, os minutos estendem-se por dias; e as horas, por semanas.
Sarinha e Rosemiro escolhiam os galhos mais altos e robustos para, tranqüilos e afastados dos olhares dos adultos, degustarem as cobiçadas ameixinhas. Nessa tarde, sentados no mesmo galho, Sarinha, por curiosidade, perguntou à Rosemiro se, como seus dois irmãos mais velhos, ele masturbava-se.
Até esse instante, estas ferramentas, plug-ins de um complexo software sexual, não haviam sido pronunciadas, ou melhor, denunciadas por nenhum dos dois. Tudo estava implícito; desde a já manjada, “primeiro as damas”, expressão muito usada por ele, depois da qual Sarinha subia à árvore toda sorrisos & calcinhas; até as brincadeiras de esconder, na qual um terceiro infante contava, e a dupla escondia-se em algum lugar apertado, onde o suor se dá menos pelo calor do que pelas indescritíveis erupções sensoriais. Transpirava-se em silêncio trêmulo. Não havia palavras, até então.
Diante da afirmativa do primo, Sarinha exigiu uma prova. Prova esta que, na velocidade de um lapso, foi executada com maestria por Rosemiro, ali mesmo, em cima da árvore, na frente de Sarinha; e o tempo parou.
Era tudo escuridão e silêncio. Depois, houve uma explosão de luz branca, como num imenso flash.
O diálogo:
- Quem és tu, invasor?
- Eu? – Rosemiro, atordoado, vislumbra no galho acima do seu, a figura medieval de
outro menino que o ameaça com uma pequena espada – Eu?
- Não te faças de tonto! Diga! Quem és tu? – Grita, ameaçadoramente, o menino com a espada em punho – Quem és tu que invade os meus domínios!
- Seus domínios? Espera aí... Eu te conheço! Você é o Barão das Árvores! Não sei o que aconteceu... Não entendo mais nada... Você... Você é personagem de um livro!
- Quem és tu, que invade os meus domínios? – insiste o espadachim, ignorando as palavras do outro.
- Como assim? Eu sou... Meu nome é... Não consigo lembrar o meu nome...
- Pois, sei quem tu és e lembro-me de teu nome muito bem!
Perplexo, o menino amnésico não vê mais o jovem espadachim. Agora ele está diante de um senhor calvo e grisalho, surgido como que da fumaça espessa do cachimbo pendente em sua boca. Com uma voz rouca, o velho diz:
- Teu nome és Id.
- Id?
- Isso mesmo, Id.
-?
- Na psicanálise, teu nome é relacionado aos conceitos estruturais do aparelho psíquico do homem, formado por instintos, impulsos orgânicos e desejos inconscientes e regido pelo princípio do prazer, que exige satisfação imediata. É a energia dos instintos e dos desejos em busca da realização desse princípio do prazer. É a libido, meu filho!
Novamente, a escuridão surda-muda e repentina.
Vozes distantes gradativamente ganharam volume, até o ponto em que, de súbito, estouraram os auto-falantes do inconsciente de Rosemiro, desencadeando uma insuportável dor de cabeça no menino.
Quando abriu os olhos, não enxergava com nitidez; conforme a dor amenizava, os vultos foram tomando forma. O primeiro vulto que distinguiu foi o da árvore, que não mais estava firme sob seus pés. Depois, viu sua mãe que lhe abanava o rosto aos prantos, Tia Joelma, Sarinha; da posição que estava, fixou os olhos como olhando para frente e vislumbrou o céu. Era isso; ele tinha caído da árvore. No mesmo dia, ficou sabendo que seu primo, Régis, irmão mais velho de Sarinha, famoso pela pontaria precisa, e intimidade no manejo do estilingue, vendo Rosemiro masturbar-se na frente da irmã, não pensou duas vezes e derrubou o menino da árvore.
Seu Ego foi ferido - é isso que acontece quando ele submete-se aos impulsos do Id - o Super-Ego pode estar em qualquer lugar, qualquer arbusto, moita, apenas aguardando o momento exato da pedrada.
* * *
No portão de casa, sentiu o cheiro bom do guisado que a mãe preparou para o almoço, e sorriu satisfeito.
FIM
Artérias sinfônicas
Não diga que não quer me dar
Uma colher de chá e,
Beber essa canção que eu fiz
Pra no teu sangue ela circular
E no teu coração, metrônomo meu,
Minhas notas irão tocar
A sinfonia das artérias
Só pra ti.
Uma colher de chá e,
Beber essa canção que eu fiz
Pra no teu sangue ela circular
E no teu coração, metrônomo meu,
Minhas notas irão tocar
A sinfonia das artérias
Só pra ti.
Argumentação e espuma
Os lábios ressequidos no fluxo constante da palavra,
Acumulavam espessa baba em farta barba.
Meu nome é Enéas!
Acumulavam espessa baba em farta barba.
Meu nome é Enéas!
terça-feira, 12 de maio de 2009
Crivos & Cisos
Parei de fumar. Temporariamente; é o que tudo indica. Meus cisos se foram; isto sim, é definitivo. Toda separação é dolorosa; toda e qualquer remoção de carne dói. Eu vi meus dentes refletidos nas lentes do meu algoz: Um sorriso que não sorria. Vi frenéticas luvas cirúrgicas disputando espaço na bocarra. Era o reflexo de uma separação. Crivos & Cisos.
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